Bem-vindes a 1972! Doctor Who está no ar há 9 anos, um marco para uma série que não deveria ter durando mais de três meses. E um dos motivos que fez Doctor Who permanecer na programação da BBC por tanto tempo foram os Daleks.
Os nossos queridos saleiros genocidas, porém estavam fora do ar desde 1967. Seu criador, Terry Nation, tentou ao longo dos anos emplacar uma série própria, sem sucesso. E por mais que Barry Letts preferisse criar seus próprios monstros, o chefão da BBC na época, Huw Wheldon, ficava perturbando o produtor, perguntando quando os Daleks voltariam.
Letts e Terrance Dicks foram, então, conversar com Terry Nation, para que o roteirista liberasse os personagens — já que ele próprio não poderia escrever o roteiro, pois estava preso à série The Persuaders! (mas Nation somente concordou se tivesse a palavra final no roteiro e fosse creditado em tela).
Acordo finalizado, coube ao roteirista Louis Marks incluir os Daleks em um roteiro seu que já estava previamente aprovado para a Nona Temporada, chamado The Ghost Hunters. Letts e Dicks haviam ficado encantados com a introdução de paradoxos temporais — Day of the Daleks é, por incrível que pareça, uma das poucas histórias em Doctor Who em que a viagem no tempo é realmente o elemento principal do enredo.
No arco, guerrilheiros do século XXII que buscam evitar uma nova invasão Dalek à Terra, voltam ao século XX para matar sir Reginald Styles, um delegado da Segunda Conferência de Paz cujas ações resultam, dois séculos depois, na conquista Dalek.
Pausa para seção “Doctor Who sempre foi político, você que era novo demais para perceber”: Louis Marks foi influenciado pela Guerra dos Seis Dias, entre Israel e Egito, e usou nomes de origem do Oriente Médio para os guerrilheiros (que sim, se vestem igual Che Guevara porque a caracterização dada pela roteirista foi exatamente essa: Che).
E se os guerrilheiros viajaram até o passado para matar sir Reginald, porque o Doutor e Jo não vão ao futuro para impedir a invasão? Eles vão, mas quando os planos dão errado, nós somos apresentados ao Efeito Blinovitch — também conhecido como a desculpa que o Doutor dá, até hoje, para não cruzar a sua própria linha temporal, sob pena de causar um paradoxo. Sim, o Efeito Blinovitch é 100% ficcional. Existe um áudio da BBC de 1994 (novelisado pela Virgin no ano seguinte) chamado The Ghost of N-Space com o Terceiro Doutor, Sarah Jane e o Brigadeiro que explica o surgimento dessa teoria.
Uma curiosidade é que Jon Pertwee não entendia porquê os Daleks faziam tanto sucesso pois, para o ator, os personagens eram limitados. Mas Pertwee gostava dos Ogrons, os paus-mandados dos Daleks apresentados em Day of the Daleks, porque o design das criaturas permitiam que eles tivessem expressões faciais, facilitando contracenar com elas.
À medida que a Nona Temporada for evoluindo, vamos ver que o exílio do Doutor na Terra estará cada vez mais próximo do fim. Isso porque os Senhores do Tempo começam a pedir uma ajuda aqui e outra ali para o seu filho desgarrado predileto limpar a sujeira que eles criaram.
Na próxima edição, vamos falar de The Curse of Peladon, o nome de episódio que mexe com a 5ª série que existe dentro do fandom brasileiro. Até lá!