Satélite 5 - nº 25
Azal! Vamos falar hoje sobre The Daemons, o finale da Oitava Temporada de Doctor Who.
"O Mestre, se passando por um vigário de área rural, invoca o demônio Azal na cripta de uma igreja. Querendo ganhar os poderes da criatura, ele forma um culto, corrompendo e controlando os moradores de Devil’s End para se curvarem aos seus desejos. Às vésperas das celebrações de Primeiro de Maio, forças elementais obscuras começam a perturbar a vila: assassinatos inexplicados, uma gárgula de pedra ganhando vida e um domo de energia praticamente impenetrável. Com o Mestre preparado para destruir a Terra, o Doutor e a UNIT — ajudados por uma bruxa — lutam contra os rituais de uma ciência secreta criada por uma forma de vida alienígena”.
The Devil’s Rides Out (em português, As Bodas de Satã), é um livro de 1934 escrito por Dennis Whitley, que deu origem ao filme de 1968 dirigido por Richard Matheson e estrelado por Christopher Lee. “Mas ADM, o que isso tem a ver com Doctor Who?”. Acontece que o nosso querido produtor Barry Letts se tornou um grande fã de histórias de magia negra depois de ler esse livro. Tanto que o script dos testes para os papeis de Jo Grant e Mike Yates continham uma cena em que os personagens encontravam Satã em pessoa dentro de uma igreja.
E quando Letts decidiu que precisava, ele próprio, escrever um arco para Doctor Who, qual foi o assunto escolhido? Pois é. Encorajado por Terrance Dicks, o produtor adaptou o roteiro dos testes com um enfoque mais racional, tendo a oportunidade de explicar mágica em termos científicos. Letts contou com a ajuda do dramaturgo Robert Sloman, usando como base o livro Chariots of the Gods?: Unsolved Misteries of the Past, que propunha que alienígenas haviam visitado a Terra na pré-história.
Para evitar problemas com o sindicato dos roteiristas — que não queria os produtores escrevendo para as próprias séries [insira aqui a minha gargalhada] — Sloman e Lett assinaram o roteiro como “Guy Leopold”, juntando o nome do filho do primeiro com o nome do meio do segundo.
A dupla, porém, penou para alinhar o roteiro às exigências da BBC, que não queria ter problemas com conflitos de crenças religiosas. Para isso, algumas coisas foram alteradas: os rituais do Mestre foram transferidos da igreja para a cripta, que por sua vez acabou sendo chamada apenas de “a caverna”; as referências ao demônio, que passou a ser chamado de “Besta com Chifres” e não mais “Deus com Chifres”. O encantamento que o Mestre usa para invocar Azal é apenas a canção infantil “Mary Tinha Um Carneirinho” cantada de trás para frente — mas que na voz e entonação cavernosa de Roger Delgado acabam parecendo algo mais profundo.
Falando em Delgado, foi nesse arco que Letts percebeu que ter o Mestre em todas as histórias foi um erro. Por isso, ele decidiu que o personagem seria, ao final, preso pela UNIT, permitindo que ele ainda fosse utilizado ao longo das temporadas seguintes, mas sem a necessidade de a trama girar ao seu redor.
Duas curiosidades sobre as cenas de explosão em The Daemons:
a cena do helicóptero é, na verdade, uma tomada não usada do filme Para a Russia, Com Amor, de 1963 — sim, um filme de James Bond — e que já tinha sido utilizada antes em The Enemy of the World, do Segundo Doutor;
a réplica da igreja criada para a cena de explosão foi tão bem feita que as pessoas começaram a ligar imediatamente para a BBC em protesto, porque onde já se viu um programa de TV destruir um prédio tão antigo quanto aquele.
The Daemons era o episódio predileto de Jon Pertwee e o segundo predileto de Nicholas Courtney, depois de inferno. Falando no Brigadeiro, é aqui que a icônica fala dele “five rounds rapid” aparece pela primeira vez.
É um arco tão famoso que foi o primeiro a ser reprisado pela BBC, dessa vez em formato omnibus, ou seja, como se fosse um filme de 90 minutos. A audiência da reprise foi de imensos 10,5 milhões de espectadores, a maior do programa desde 1965, fazendo com que a BBC programasse, antes do início de cada nova temporada de Doctor Who, o repeteco de pelo menos um arco das temporadas anteriores nesse sistema de episódio único. Esse expediente durou até os anos 1980. Obviamente, a versão omnibus de The Daemons foi devidamente apagada e não restou nada para contar história.
Chegamos ao fim da Oitava Temporada. Com o último episódio de The Daemons indo ao ar em 19 de junho de 1971 e a Nona Temporada começando só em 1º de janeiro de 1972 (uma nova temporada começando junto com o novo ano só aconteceria novamente em 2020), os fãs de Doctor Who passaram os seis meses seguintes se perguntando o que teriam de novidades. A volta de velhos conhecidos e novos personagens que se tornaram clássicos imediatos são os temas das nossas próximas edições. Até lá!
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